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Nuevatierraencontrada

Recentemente a Comunidade Valenciana solicitou ajuda ao governo central espanhol para fechar suas contas. Caso não recebesse suporte de (boatos dizem) 3 bilhões de euros do Fundo de Liquidez das Autonomias (FLA), a região não conseguiria pagar suas dívidas, já que boa parte dos recursos foi destinada a tal fim.
Uma semana depois, foi a vez da Catalunha, inimiga histórica do governo central – talvez um pouco menos que os bascos -, pedir um aporte financeiro para contornar sua situação fiscal precária. Justamente a região que não via a hora de declarar independência, cujos habitantes mais exaltados bradam em qualquer evento público que “Catalunya no és España”, precisou enfiar a viola no saco e pedir ajuda aos burocrátas de Madrid.
Seria este um golpe nas pretensões catalãs à independência?
Primeiramente, é difícil conceber como a Catalunha conseguiria obter sua soberania. Mesmo baseada nos critérios usualmente aceitos, de ter uma cultura própria, uma língua que identifique seu povo etc, seria um trabalho hercúleo conseguir a independência do governo espanhol. Num caso extremo, talvez teríamos um novo país no Mediterrâneo, mas o crescimento espanhol pré-crise conseguiu acalmar os ânimos dos mais extremistas catalães.
A importância econômica da região é grande para o governo central espanhol, tanto que a separação está fora de cogitação nos botequins da Gran Via madrilenha. A região é um importante polo industrial, sendo que a capital Barcelona e seu subúrbio foram das primeiras regiões da Espanha a se industrializar. Algumas concessões foram feitas após a morte do Generalíssimo Franco, como maior autonomia fiscal, mas dai a ser criada uma nova nação, talvez só uma guerra conseguiria.
Ademais, o descalabro fiscal que a região se meteu, seja por conta de peripécias financeiras, seja por ter sido infectada pela síndrome do “Desta vez é diferente” que rege todo boom econômico, pode ter solapado as últimas esperanças de se tornar um país independente.
Quem cogitava um governo autônomo e soberano, pode acabar perdendo parte das concessões ganhas do governo central espanhol nas últimas décadas, tudo porque Milton Friedman nos ensinou que não existe almoço grátis. Ainda é incerta qual será a contrapartida que o governo central espanhol, gestor do FLA, demandará, mas não seria surpresa a perda de certa autonomia fiscal (com consequências políticas) por parte dos catalães.
Para quem crê que somente contrapartidas fiscais e financeiras serão exigidas, vale lembrar a história de Newfoundland, que antes do Crash de 29 era um país independente, uma democracia assim como seu vizinho Canadá. Após os anos turbulentos do início da década de 30, Newfoundland acumulava uma dívida praticamente impagável e seu déficit fiscal batia na casa dos 10% do PIB. Com as dificuldades financeiras, o governo britânico precisou intervir, para colocar ordem na casa e evitar um mal maior (maior que 25% da população na mais extrema pobreza).
Durante o restante da década de 30, o país viveu sob domínio fiscal e político inglês, até que se juntou ao Canadá em 1949, por meio de dois plebiscitos. Os canadenses assumiram 90% das dívidas de Newfoundland e anexaram o território.
Se o conto acima serve de exemplo, a Catalunha poderia começar a se preocupar. O caso catalão parece mais simples, pois não é preciso plebiscito ou anexação (eu gostaria muito de soltar um Anschluss aqui, mas seria tachado de nazista), bastariam algumas cláusulas no contrato de liberação dos recursos do FLA para impediri novos progressos na tentativa catalã de independência pelas vias pacíficas. Toda a autonomia conseguida ao longo do tempo parece ter sido varrida pela crise econômica. Pelo menos a lição foi aprendida: “Catalunya és España” e desta vez não é diferente.

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